Depois de uma atuação complicada na primeira fase de seu
trabalho de relatoria do PNE na Câmara, o deputado Ângelo Vanhoni me
surpreendeu positivamente.
O embate deste momento no PNE é entre manter os avanços
conseguidos na Câmara versus acatar um conjunto de retrocessos consignados pelo
texto do Senado, mesmo que seja sempre possível encontrar algum avanço perdido
no meio de tantas alterações realizadas pela Casa Revisora.
Pois bem, nesta fase legislativa somente é possível acatar
ou rejeitar modificações feitas pelo Senado. Tudo que gostaríamos que o Senado
tivesse melhorado no texto aprovado na Câmara, mas que não se realizou, não
poderá ser proposto. O momento é de não perder conquistas, claramente.
Neste sentido, o relatório do deputado Vanhoni é uma grata
surpresa, por que recuperou grande parte das conquistas anteriores, as quais
haviam sido retiradas na batalha que travamos no Senado Federal. Destaco três
muito importantes:
1.
A previsão de que o investimento educacional
deva alcançar 10% do PIB ao final da década e que tal percentual seja apenas
contabilizando a rede pública. O Senado havia alterado o texto para incluir
neste percentual todo o gasto com subsídios, bolsas e isenções concedidas ás
instituições privadas. O relator manteve o texto da Câmara.
2.
A garantia que o crescimento das matrículas do
ensino profissional tenha seu acento na expansão da rede pública, quesito também
retirado na tramitação do Senado.
3.
A garantia que o crescimento das matrículas do
ensino superior também possuísse acento na expansão da rede pública, previsão
também retirada no Senado.
Porém, em pelo menos dois aspectos considero que o relatório
representa a consolidação de retrocessos importantes e, por isso, precisa ser
modificado.
O primeiro diz respeito a assimilação da redação da Meta 4
aprovada no Senado, que na prática enfraquece a educação inclusiva, direito
fundamental dos portadores de deficiência inscrito em nossa Constituição.
O segundo retrocesso é a concordância do relator com a
supressão da estratégia 20.10 do texto aprovado na Câmara, que estabelece a
obrigação da União de complementar estados e municípios que não conseguirem
alcançar o Custo Aluno Qualidade. Sobre este assunto escreverei com mais clama
no dia de amanhã, pois o esforço teórico de minha tese foi justamente o de
mensurar o valor necessário para que o Brasil passasse a conviver com um padrão
mínimo de qualidade. E é óbvio que tal esforço não pode acontecer sem um forte
aporte financeiro da União.
Não acho que a melhoria da postura do deputado Vanhoni seja fruto de alguma conversão repentina aos interesses educacionais. É fruto direto do bom trabalho desenvolvido pela sociedade civil organizada durante todo o processo de tramitação da matéria no Congresso Nacional, com destaque para a atuação da Campanha Nacional pelo Direito à Educação. De certa forma é contraditório que esta rede tenha tido tanto peso para melhoria do relatório nesta fase da tramitação e o relator tenha acatado a visão do setor econômico do governo em uma das principais bandeiras do movimento que é o estabelecimento de um Custo Aluno Qualidade.
Vamos acompanhar a reta final da longa novela que se
transformou a elaboração do Plano Nacional de educação.
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