Desde que iniciou a tramitação do Plano Nacional de Educação
que o INEP deixou de divulgar uma importante informação. Trata-se da Estimativa
do Percentual do Investimento Público Direto em educação em relação ao Produto
Interno Bruto – PIB. Traduzindo: trata-se de quanto cada esfera de governo
investe em educação pública.
Finalmente este dado vem a público. Tendo que responder a
requerimento de autoria do senador Randolfe Rodrigues (PSOL/AP), o Ministério
da Educação informou ao parlamentar os dados que estavam guardados a sete
chaves nas gavetas ministeriais desde 2010. A informação foi divulgada pelo
jornalista Fernando Rodrigues no dia de hoje ( http://migre.me/ioZHs ).
O investimento direto em educação passou de 3,9% do PIB
(2000) para 5,5% do PIB (2012), crescimento muito lento para as necessidades do
país. Porém, a distribuição deste esforço entre as esferas de governo é
bastante desigual.
Em 2000, no segundo mandato de FHC a participação da União
era de 0,7% do PIB, ou dito de outra forma, participava com 17,9% dos recursos
aplicados diretamente na educação pública do país. Passados dois mandatos de
Lula e contabilizando dois anos de governo Dilma esta participação é de apenas
1% do PIB, o que representa no momento apenas 18,2% de participação.
Talvez por este motivo que as referidas tabelas tenham sido
suprimidas do rol de indicadores disponibilizados pelo INEP. No meio de um
forte questionamento sobre o quanto o país deveria aplicar em educação ser
divulgado que o ente federado mais rico é o que menos contribui
financeiramente, seria colocar gasolina no fogo do debate travado no Congresso
Nacional.
E mais, a participação da União vinha crescendo, mesmo que
lentamente, no governo Lula, especialmente após a criação do Fundeb e abertura
de novas universidades e institutos tecnológicos. Acontece que este crescimento
parou de existir. No último ano de Lula chegou a 1% e em 2012 continua no mesmo
patamar.
Certamente estes números vão dar o que falar nos próximos
dias.
A divulgação da tabela vai reacender o debate sobre o papel
do governo federal no alcance das metas do novo Plano Nacional de educação.
Semana que vem sai o relatório final do deputado Vanhoni (PT/PR), o qual dirá o
que a Câmara aceitará ou rejeitará do que foi modificado pelo Senado.
3. Quando comparamos a aplicação de recursos federais em
relação ao PIB feito de forma direta (somente nas escolas públicas) e vemos a
tabela de aplicação total (que acrescenta todos os gastos com subsídios, bolsas
e outras formas de apoio ao setor privado) fica claras uma opção preferencial
pelos ricos, pois a ajuda ao setor privado equivale a 30% do que é destinado
pela União para o setor público.
4. É descabida a justificativa de que os dados compilados
colocam recursos federais repassados aos municípios e aos estados, mas que
efetivamente eles seriam da União.
4.1. Os dados se baseiam nas informações fornecidas para o
Tesouro Nacional e para o SIOPE, os quais são permitem separar dos gastos, por
exemplo, com alimentação escolar, o que foi recebido do governo federal e o que
foi gasto com recursos próprios. Da mesma forma é perfeitamente possível
separar o dinheiro transferido para complementar o Fundeb.
4.2. Recursos arrecadados pelo governo federal, mas que por
decisão constitucional pertencem aos estados e municípios, não podem ser
contabilizados como dinheiro federal. Por exemplo, o FPM é transferência
constitucional para os municípios, mas não pertence ao governo federal. Aquilo
que nos pertence é licito fazer o uso que nos aprouver, esse não é o caso
citado. Assim como não podemos contabilizar toda receita arrecadada de ICMS
como receita estadual, por que a Constituição obriga a transferência de parte
obrigatoriamente para os municípios.
5. As tabelas enviadas ao senador Randolfe Rodrigues
(PSOL/AP) deveriam ser públicas e transparentes. Caso o governo questione a
metodologia, basta que reúna a comunidade acadêmica e áreas envolvidas e
proponha outro formato, aperfeiçoe o instrumento. E nunca será aceitável que
tais tabelas fiquem escondidas e só apareçam á público quando o governo se veja
obrigado a fornecê-las.
6. Uma das principais polêmicas do debate no PNE é
justamente qual deve ser a participação da União no esforço para o cumprimento
das metas e estratégias previstas na texto. Um bom exemplo é o esforço do
governo federal para retirar do texto a obrigação da União complementar as
finanças estaduais e municipais quando da implantação do Custo Aluno-Qualidade.
Os números mostram que o ente federado que tem gorduras pra queimar é a União e
sem a sua mais efetiva participação o plano pode virar uma peça de ficção.
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