Sinal dos tempos (confusos em termos ideológicos).
Amanhã será lido o parecer do senador Álvaro Dias (PSDB/PR)
ao Projeto de Lei que institui o novo Plano Nacional de Educação (PNE). Será às
11 horas na Comissão de Educação do Senado. Deve ser dado vistas de uma semana
e é quase certo que seja votado na terça-feira 26.11 e seguir para o plenário
do Senado.
Depois da aprovação de dois relatórios que suprimiram partes
importantes das conquistas arrancadas pela sociedade civil na Comissão Especial
da Câmara dos Deputados, o Substitutivo apresentado pelo atual relator é uma
grata surpresa.
De maneira resumida, o que o Substitutivo apresenta?
1. estabelece
que os estudos de monitoramento do PNE apresentem dados desagregados por ente
federado.
2. Retoma
a palavra “pública” no parágrafo 3º do artigo 5º (muito importante)
3. Duas
novas fontes de financiamento para a educação são inseridas: parcela da
participação no resultado ou da compensação financeira pela exploração de
petróleo e gás natural, e cinquenta por cento dos bônus de assinatura definidos
nos contratos de partilha de produção de petróleo e gás natural.
4. A
Evolução dos gastos constará de relatório dos Tribunais de Contas e de mensagem
anual da Presidência da República.
5. Retoma
a previsão de conferências municipais e estaduais anteriores a Conae, da forma
como havia sido aprovado na Câmara
6. Cria
instância de pactuação federativa (parágrafo 6º do artigo 7º).
7. Volta
com o prazo de um ano para planos estaduais e municipais.
8. Estabelece
que a elaboração dos planos será condição para recebimento de ajuda voluntária
do governo federal.
9. Retoma
prazo para envio do novo PNE pela União, quesito que havia sido suprimido pela
CCJ do Senado.
10. Retoma
prazo de dois anos para lei do Sistema Nacional de Educação.
11. Melhora
na redação da meta 6, garantindo que tempo integral signifique também ampliação
de conteúdos de aprendizagem.
12. Estabelece
obrigação de formulação de diretrizes pedagógicas nacionais, construídas por
pactuação interfederativa.
13.
Incorporou reivindicação do pessoal do campo, permitindo desenvolvimento de
modelos alternativos de atendimento escolar para a população do campo, que
considerem as especificidades locais e as boas práticas nacionais e
internacionais relacionadas à multisseriação e à pedagogia da alternância.
14. Retorna
com a obrigação de 50% de matriculas públicas na expansão do ensino
profissionalizante.
15. Retorna
com a obrigação de 40% de matrículas públicas na expansão do ensino superior.
16. Retoma
redação mais afirmativa da formação inicial superior para o magistério.
17. estabelece
que cumprir o piso salarial do magistério passa a condicionar repasses federais
aos estados e municípios.
18. Retoma
a palavra pública na meta 20, mesmo com a ressalva confusa da nova redação do
parágrafo quinto e sexto.
19.
Redação interessante dando prazo de um ano da publicação deste PNE, lei que
defina a participação percentual mínima da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios no incremento de verbas destinadas à educação para o
alcance da meta de ampliação progressiva do investimento público em educação
pública.
20. Retoma
o termo implantar para o CAQI (que havia se transformado em estabelecer).
21. Retoma complementação da união para o
CAQI.
22. Redação
que define critérios para distribuição dos recursos adicionais dirigidos à
educação ao longo do decênio, que considerem a equalização das oportunidades
educacionais, a vulnerabilidade socioeconômica e o compromisso técnico e de
gestão do sistema de ensino, a serem pactuados na instância prevista no § 5º do
art. 7º desta Lei.
Nem tudo é perfeito e tenho algumas discordâncias
pontuais com o texto, especialmente com a nova redação da meta sobre alfabetização
e sobre a transitoriedade do financiamento do setor privado, mas a linha mestra
do Substitutivo é a retomada das conquistas obtidas na Câmara. Isto é bem
claro.
Iniciei este post falando de sinal dos
tempos. Tendo sido um dos fundadores do PT (mesmo que de lá tenha saído em
2005), é paradoxal ter visto as conquistas da sociedade civil terem sido
suprimidas no Senado pelo relator petista e retornarem no Substitutivo do PSDB.
O mundo anda mesmo muito confuso nos últimos tempos...
Claramente o relator tucano quer fazer um
contraponto com o governo. Porém, independentemente de suas intenções o seu
parecer é um passo à frente na luta por um plano nacional de educação que
incida positivamente na alteração do caos educacional.
Caso sua estratégia dê certo (o governo vai
tentar derrubar seu substitutivo), o senador Álvaro Dias terá aproveitado a
chance de ser lembrado na história da educação, coisa que os senadores Vital do
Rego e José Pimentel e o deputado Ângelo Vanhoni desperdiçaram.
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