Apesar das movimentações feitas nos últimos dias, todas
visando interagir com seu eleitorado mais fiel, a avaliação do governo diante
da pandemia continua piorando.
Duas pesquisas foram publicadas no dia de hoje, ambas feitas
durante essa semana. A Pesquisa DataFolha ainda não está disponível na íntegra,
o que dificulta seu uso mais amplo neste post. De qualquer forma, em ambas se
apresentam elementos interessantes e todos eles apontam para um derretimento,
mesmo que as pesquisas divirjam sobre o ritmo, do apoio ao governo de Bolsonaro.
A avaliação do governo, segundo a pesquisa da XP
Investimentos, mostra que a avaliação positiva do governo caiu 2 pontos
percentuais em 15 dias (havia caído de 34% para 30% e agora para 28%). No meio
de março não havia ainda reflexo na avaliação negativa, que se manteve em 36%,
mas passados quinze dias de impacto da pandemia na vida das pessoas, o
crescimento das avaliações negativas foi de 6 pontos, chegando a 42%.
Os números encontrados pelo DataFolha também mostram um
crescimento da avaliação negativa em cinco pontos percentuais (de 33% para
39%). E uma queda de 2% na positiva, que ficou em 33%.
Quem está conseguindo capitalizar mais o enfrentamento da crise
são os governadores e o ministro da saúde.
A XP mostra um crescimento acentuado da aprovação dos
governadores, passando de 23% para 44% as avaliações positivas em um mês. Para
a DataFolha essa aprovação oscilou de 54% para 58%.
A imagem do Congresso também melhorou para a XP, que mostra
uma queda da avaliação negativa do Congresso (caiu de 44% para 32%), melhorando
avaliação regular (de 37% para 45%) e positiva (10% para 18%).
Tanto na XP quanto na DataFolha fica evidente que a
confiança no ministro Mandetta está em alta. Na XP sua atuação avaliada é
considerada positiva para 68% dos entrevistados e para o DataFolha esse
percentual chega a 76%. Na outra ponta, apenas 29% consideram positiva atuação
de Bolsonaro no gerenciamento da crise.
Tendo por base a pesquisa da XP, podemos afirmar que todas
as perguntas sobre efeitos econômicos da pandemia possuem percepção negativa da
população. No geral a percepção é de que a vida vai piorar e que seus empregos
serão permitidos. São 82% que consideram que terão impacto financeiro nas suas
vidas.
Levando em conta apenas os dados da XP, fica evidente que o
medo da população com efeitos da pandemia está aumentando (muito medo subiu de
23% para 37%, por exemplo). Aumentou o percentual que afirma conhecer pessoas
infectadas (pulou de 2% para 9%).
Dado muito relevante para explicar a queda de aprovação do
presidente é que 80% apoiam o isolamento social. E apenas 12% concordam
totalmente com a ideia do Bolsonaro de isolamento vertical, mesmo que ainda
apareçam 22% que concordam em parte. Esse número, com o agravamento da pandemia,
deve cair.
Para a XP os segmentos que estão puxando a avaliação
negativa do governo são:
Nordeste (56%), Jovens (50%), Classe média (49%), Nível
superior (48%) e Cidades grandes (55%).
O que podemos deduzir da fotografia publicada no dia de hoje
(mesmo faltando dados mais detalhados do DataFolha)?
1.
Há uma clara tendência de queda de popularidade
do governo Bolsonaro;
2.
A sua postura de defesa do isolamento vertical,
entrando em guerra com demais poderes, mídia e o próprio Ministério da Saúde, é
de caso pensado, tentativa de manter sua base eleitoral ou, pelo menos, reduzir
a sangria. Sobre o sucesso dessa empreitada, os números são contraditórios, mas
há clara tendência de continuidade do sangramento da base, vide impacto maior
na classe média;
3.
O agravamento da pandemia e da crise econômica
conspiram contra o presidente. Recessão e mortes não colocam sua aprovação a
salvo, pelo contrário. Sua aposta de que a pandemia não será tão grave (difícil
saber qual o parâmetro que o leva a medir dessa forma) e de que sua postura de
defesa dos empregos contra a histeria manterá parte de sua base no seu entorno,
não parece ter elementos presentes de sucesso nas duas pesquisas;
4.
Os governadores estão se tornando os principais
beneficiados da crise. Não serão responsabilizados pelo desemprego e aparecem,
pelo menos no momento, como gestores responsáveis por tentar salvar vidas. É
lógico que a aposta de Bolsonaro é que ocorra uma pressão violenta pelo retorno
as atividades a curto prazo e que isso vire o jogo, jogando o desgaste nas
costas dos governadores. A experiência mundial não aponta existência desse
fenômeno.
5.
A governabilidade de Bolsonaro para essa virada
de jogo está diretamente relacionada com a percepção da gravidade da pandemia e
a necessidade de prorrogação das medidas de isolamento ou até de aprofundamento
das mesmas (como tem acontecido em vários países, passando para o confinamento
e paralisação maior de atividades econômicas). As pesquisas mostram que o medo
está crescendo na proporção que mais pessoas se contaminam e morrem. E isso,
pelo menos no próximo mês, não vai diminuir.
O derretimento de sua popularidade pode levar a que
Bolsonaro seja pressionado a fazer uma guinada no seu posicionamento, tipo a que
Trump fez? Teoricamente sim, mas existe dúvidas fundadas sobre sua capacidade
de agir de maneira racional.
Caso não consiga dar este “cavalo de pau” e reverta o
derretimento, ao final da pandemia seu governo estará bastante isolado. E as
alternativas de encurtamento de seu mandato entrarão, de fato, na agenda
política.
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