segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Enem e eleições


Definitivamente a educação entrou no debate eleitoral, mesmo que de maneira torta e confusa.

Em evento eleitoral realizado no dia do professor, o candidato José Serra (PSDB) criticou o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e afirmou que a prova precisa ser reformulada. “O Enem tem que ser refeito. A utilização política e propagandista acabou arruinando o Enem. Além disso, acabou virando um problema para os jovens”, afirmou o candidato.

Em entrevista ao Portal IG, a coordenadora do Programa Educacional do candidato Maria Helena Castro afirmou que o programa de governo do candidato tucano prevê a revisão da matriz de referência para o exame, com as habilidades e competência exigidas dos estudantes. Segundo a professora, o novo Enem passou a adotar matriz do Encceja, mais enxuta que a anterior, e ainda recebeu sugestões de conteúdos de universidades. “Ficou muito pesado. O Enem tem que ser um sinalizador do ensino médio. Na nossa avaliação, precisa ser aprimorado.”

O Ministério da Educação repudiou as declarações do candidato tucano em nota oficial. No texto o MEC “lamenta profundamente que a 20 dias da realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que movimentará sonhos e aspirações de 4,6 milhões de estudantes em todo o país, o assunto seja tratado de forma leviana pelo candidato à Presidência da República José Serra”.

O ministério fez questão de lembrar que a rede federal de ensino superior “decidiu abandonar o vestibular tradicional em proveito de um sistema democrático de acesso à educação superior pública de qualidade”. E que neste ano, a rede oferecerá mais de 83 mil vagas, preenchidas exclusivamente pelo Enem.

O ENEM foi criado no governo tucano. Seus criadores sonhavam com três tarefas grandiosas para a prova: ser uma certificação de ingresso no mundo do trabalho, servir para avaliar o ensino médio e ser utilizada para ingresso no ensino superior. As duas primeiras nunca aconteceram, pois o mercado de trabalho não aderiu as idéia e a prova não possuía formato capaz de avaliar o ensino médio brasileiro.

A participação no Enem só teve aumento significativo de inscritos quando a administração do então Ministro Paulo Renato trabalhou pra convencer instituições privadas de ensino superior a utilizá-lo como parte da nota de ingresso.

É uma injustiça dos tucanos a acusação de que o governo atual deformou o Enem. Considero que a proposta de Novo Enem apenas consolidou a tendência histórica de utilidade da prova. E no portal do INEP o governo atual deixa claro o novo caráter ao dizer:

“A proposta tem como principais objetivos democratizar as oportunidades de acesso às vagas federais de ensino superior, possibilitar a mobilidade acadêmica e induzir a reestruturação dos currículos do ensino médio”.

A evolução da participação no Enem acompanha ações voltadas para o perfil de ingresso nas instituições de ensino superior.

Em 2001º número de participantes quadriplica com a utilização de suas notas por instituições privadas.

De 2001 a 2004 houve certa estabilidade no número de inscritos.

No segundo semestre de 2004 é editada a Medida Provisória 213, que criou o Prouni. E em 2005 as inscrições saltam para quase 3 milhões (contra 1,5 milhão do ano anterior).

Em 2010 mais de 4,6 milhões estão inscritos para o Enem, um aumento de quase 500 mil inscrições em relação ao ano anterior.

Não há debate verdadeiro sobre o que fazer par aumentar a presença de jovens, especialmente os mais pobres no ensino superior. Não há comentários sobre o desafio de incluir 1,5 milhão de jovens no ensino médio até 2016.

A educação aparece apenas como parte da disputa eleitoral, de preferência entre uma citação bíblica e uma acusação de aborto ou corrupção.
Infelizmente.

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