quarta-feira, 11 de abril de 2012

Sete é conta de mentiroso?


Câmara Cascudo (1898-1986), em seu Dicionário do Folclore Brasileiro, destacou que: "As estórias mentirosas, pilhérias, anedotas, casos estupefacientes... são muito populares e constituem em gênero especial, onde a imaginação exagerada e livre se liberta dos limites da lógica...". Já ouvi falar também que sete é conta de mentiroso.

A Agência Câmara do dia de hoje publicou declaração do deputado Ângelo Vanhoni (PT-PR) dando conta de que o governo federal deverá insistir na meta de investimento total de 8% do Produto Interno Bruto (PIB) no setor.

O valor é o mesmo apontado pelo próprio Vanhoni em sua proposta de substitutivo ao PNE, que trata dos objetivos da área para os próximos dez anos. A declaração foi dada após reunião fechada entre deputados ligados ao setor e o ministro da Fazenda, Guido Mantega.

Para o nobre deputado esse percentual corresponde a cerca de 7,5% de investimento público direto.

E, também para a Agência Câmara, o relator voltou a afirmar que os 8% de investimento total são suficientes para garantir melhorias significativas para a área: “Estou absolutamente convencido de que esse valor vai garantir uma revolução na educação, tanto em termos de inclusão, como em termos de qualidade”, teria dito.

Está aí um bom exemplo de conta de mentiroso e curiosamente envolvendo o número sete.
Publico neste espaço uma tabela que sistematiza a relação entre investimento direito e investimento total durante a última década. Os dados mostram que a diferença entre os dois oscilou entre 12% e 17%, sendo que nos últimos dois anos o percentual ficou em 12%.

Estes dados não captam os efeitos da entrada em vigor do PRONATEC, programa federal que concede bolsas para o Sistema S e para escolas privadas particulares, fator que deve alargar a diferença entre investimento direto e total novamente.

Mesmo abstraindo os efeitos do PRONATEC, a conta do Ministro divulgada pelo deputado Vanhoni não tem como fechar. Vejamos com mais detalhe:

1. Se os percentuais de investimentos educacionais (direto e total) mantiverem a mesma relação atual (12% de diferença) e se em 2020 o investimento total for de 8% do PIB, isso significará que o direto será de apenas 7,04%. Bem longe de 7,5% divulgados pelo deputado;

2. Se os percentuais de investimentos educacionais (direto e total) voltarem a se distanciar (cenário mais provável) e se em 2020 o investimento total for de 8% do PIB, isso significará que o direto será menor do que 7%, percentual originalmente proposto pelo governo e, obviamente, mais distante de 7,5%.

Estamos diante de três possibilidades:

1ª. O deputado Vanhoni não ouviu direito o que o Ministro Mantega falou ou interpretou errado o seu raciocínio, pois de um ministro da Fazenda se espera que domine bem a matemática e não erraria em uma conta tão básica;

2º. O deputado Vanhoni está usando de má fé e está tentando ajustar a sua proposta de 7,5% ao percentual acordado com o ministério da Fazenda (8% do investimento total);

3º. O deputado Vanhoni tem dificuldades com a matemática.

Bem, cada um escolhe a hipótese que achar mais próxima da realidade.

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