terça-feira, 17 de abril de 2012

O patrono da educação brasileira

No último dia 13 de abril foi sancionada a Lei nº 12.612, que torna Paulo Freire patrono da educação brasileira.

A palavra patrono tem vários significados, os quais podem nos levar a refletir o objetivo desta homenagem. A palavra pode significar o que luta ou defende uma causa, ou mesmo pode ser um defensor ou protetor de uma causa ou categoria. Um santo padroeiro é considerado um patrono. Até turmas escolares escolhem um patrono, uma espécie de tutor do grau que estão recebendo.

Talvez se esteja pedindo demais para Paulo Freire, pois realmente a educação brasileira tem carecido de um santo padroeiro nos últimos tempos.

Não vou relembrar a importância de Paulo Freire para o pensamento educacional do Brasil e do mundo. Isso é desnecessário. Sua vida foi marcada pela defesa da escola pública, do direito do povo brasileiro ter acesso à educação e do conhecimento produzido pelo povo ser levado em consideração na formatação do currículo escolar.
A educação popular foi o principal motor de sua produção teórica. Como todos nós, Paulo Freire não é único e nem uniforme em sua obra, tendo sido influenciado e influenciando a sociedade em que viveu.

Mais algumas das causas que ele abraçou continuam a nos inquietar e gritar por socorro. Daí talvez o mérito da homenagem que a lei faz ao educador.

A alfabetização de adultos, espaço de pesquisa e ação em que mais Paulo Freire inovou, continua sendo um problema não resolvido na educação nacional. Os últimos dados mostram que pelo menos 14 milhões de brasileiros foram privados do acesso à alfabetização e chegaram aos 15 anos sem ler os códigos elementares da escrita.

Dados divulgados pelo ministro Mercadante em recente audiência pública no Senado Federal mostram que estamos sendo pouco eficientes na alfabetização de nossas crianças. Nas regiões mais pobres uma em cada quatro crianças completam oito anos sem saber ler e escrever. Os dados do SAEB mostram que nossas crianças chegam ao quinto ano do ensino fundamental em situação muito precária no quesito leitura.

Apenas 23,6% das crianças entre zero a três anos frequentam uma unidade de educação infantil. E entre os mais pobres, os negros, os que moram nas áreas rurais os números de atendimento em creche são residuais.

Nas vésperas de ser apresentado o relatório final do deputado Ângelo Vanhoni sobre o novo plano nacional de educação parece que a escolha de Paulo Freire como patrono da educação é uma espécie de grito por socorro do inconsciente nacional. Não estamos satisfeitos com a educação que temos, não estamos contentes com as propostas apresentadas pelo governo para a próxima década, mas não assumimos nosso papel histórico e colocamos nossos destinos no nosso padroeiro.

A melhor forma de homenagear Paulo Freire é enfrentar e solucionar os graves problemas educacionais que ele já denunciava no início da década de 50 do século passado.

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