Ponto de partida é "a valorização e a qualificação do professor de educação básica, condição fundamental para o desenvolvimento do país"
A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC) defenderam uma "revolução na educação brasileira" tendo como ponto de partida "a valorização e a qualificação do professor de educação básica, condição fundamental para o desenvolvimento do país". A proposta está em uma carta com a agenda das duas entidades para as áreas de educação, ciência, tecnologia e inovação, divulgada na última quarta-feira, dia 28, na 62ª Reunião da Anual da SBPC.
O coordenador do GT-Educação da SBPC, Isaac Roitman, classificou a situação de trágica e defendeu uma revisão completa no sistema, desde a primeira infância até a pós-graduação. Ele mostrou dados que mostram o baixo índice de alunos que chegam ao ensino médio e a alta taxa de abandono, especialmente nas regiões Nordeste e Norte; as péssimas colocações do Brasil em exames internacionais; a diminuição do número de formandos em carreiras do magistério; e as precárias condições de infraestrutura das escolas e de trabalho dos docentes.
O professor Nilson Machado, da USP, propôs um tratamento de choque para acabar com as desigualdades educacionais. “A educação precisa de um tratamento de choque. É incompreensível termos uma pós-graduação e pesquisa com reconhecimento até internacional em algumas áreas, e termos um ensino básico com a que existe atualmente”, disse.
Outro ponto ressaltado na mesa-redonda foram os modelos pedagógicos utilizados pelas escolas. Fernando Becker, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), defende uma reformulação profunda na formação dos professores e na própria escola. “A escola tem que se transformar cada vez mais em laboratório e cada vez menos em auditório”, afirmou.
Os especialistas também concordaram que o Brasil investe pouco em educação e o que é pior: investe mal. Para eles, seria possível quadruplicar o salário dos professores da educação básica, cujo piso atual está próximo de R$ 1.000. Uma proposta seria a adoção de remuneração diferenciada para docentes com mestrado e doutorado – o que propiciaria uma transição gradual para atingir um padrão salarial e incentivaria o aperfeiçoamento dos professores.
Criado em 2009, o GT-Educação está elaborando uma série de propostas, principalmente voltadas ao ensino básico, que serão entregues ao próximo presidente da República, em fevereiro de 2011.
Leia a íntegra da Carta das entidades:
Educação, Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Brasileiro
A ciência brasileira conquistou uma posição internacional de destaque e alcançou um grau de maturidade que permite considerá-la como um recurso fundamental para o desenvolvimento econômico e social sustentável do país. Essa competência decorre de uma política de estado que promoveu investimento continuado por várias décadas na formação de recursos humanos e na geração de conhecimento. Esta política precisa ser consolidada e ampliada nos próximos mandatos presidenciais. A ABC (Academia Brasileira de Ciências) e a SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) tendo em vista este momento vem propor:
O Brasil precisa de uma revolução na Educação. A valorização e a qualificação do professor de educação básica é condição fundamental para o desenvolvimento do país. É nesse nível que se formará a sociedade que ajudará a construir um país competitivo. A revolução educacional que se busca tem de ser de qualidade, precisa alcançar toda a população brasileira e se dar em todos os níveis, incluindo o ensino técnico e as diversas formas de educação superior.
O Brasil deve estar na fronteira da produção de conhecimento. A expansão quantitativa, com qualidade, é o caminho para o fortalecimento do patrimônio científico e cultural e para o desenvolvimento de temas estratégicos para a integridade territorial, para o desenvolvimento econômico, social, ambiental. A participação na fronteira do conhecimento é fundamental para o domínio de grandes questões do mundo contemporâneo que incluem, entre outras, mudanças ambientais, energias renováveis, satélites, biotecnologia, nanociências, mitigação da violência e redução da pobreza.
A conservação - uso sustentável - dos biomas nacionais é vital para o Brasil. Os biomas brasileiros, em especial a Amazônia e o mar, representam um grande desafio para a Ciência e a Tecnologia, tanto no que se refere ao seu conhecimento quanto ao manejo dos seus recursos naturais. Esse patrimônio natural, único, permite ao país alcançar um novo modelo de geração de riquezas e desenvolvimento sustentável, pelo uso intensivo de novas tecnologias.
O Brasil deve agregar valor à produção e à exportação. É necessário intensificar a inovação tecnológica na empresa e fortalecer a sua interação com instituições de ensino e de pesquisa. Deve ser estimulada a agregação de valor a matérias primas e geração de novos produtos e processos, com a criação de novas empresas de base tecnológica e a promoção de projetos mobilizadores.
O sucesso desta Agenda depende de profunda revisão dos marcos legais que atualmente tolhem as Instituições de Educação Superior e travam as atividades de pesquisa e inovação.
A ABC e a SBPC consideram que essa Agenda de Ciência e Tecnologia para o Brasil deve estar fortemente vinculada ao desenvolvimento social, integral e abrangente, pressuposto para uma nação forte e soberana.
(Fonte: CGC educacional e portal da SBPC)
Nenhum comentário:
Postar um comentário