segunda-feira, 2 de março de 2009

Por que Yêda mandou fechar escolas do MST?

O governo do Rio Grande do Sul atendeu o Ministério Público Federal e decidiu acabar com as escolas itinerantes que levavam o ensino fundamental aos acampamentos de sem-terra. Assim, suspendeu o convênio pelo qual essas escolas vinham operando desde 1996. A decisão estava tomada desde novembro do ano passado, mas só foi tornada pública agora, quando funcionários públicos começaram a visitar as 1.730 famílias espalhadas por nove acampamentos, para avisá-las da época de matrículas na rede pública.

Pelo sistema em vigor desde 1996, a ONG Instituto Preservar, formada por educadores simpáticos ao MST, era responsável pela educação dos filhos dos sem-terra em acampamentos e até em seus deslocamentos, como marchas, ocupações e manifestações, recebendo repasses de R$ 16 mil mensais do governo estadual por essas atividades.

A Escola Itinerante é uma experiência premiada e de reconhecido valor pedagógico. Concordo com o Frei Pilato Pereira quando afirma que nesta escola as pessoas “não apenas aprenderam a ler e a escrever, mas descobriram que poderiam reescrever suas histórias e redesenhar a sociedade”.

Talvez aí resida o verdadeiro motivo do ataque ao MST e a experiência da Escola Itinerante. O governo conservador de Yeda Crusius não pode admitir que as pessoas aprendam a ler muito mais que o alfabeto, que compreendam a realidade e o que dela deve ser transformado.
É inadmissível para um governo conservador que estudantes da Escola Itinerante tenham aulas de cidadania e não recebam apenas um certificado escolar, mas reconquistem o título de cidadão consciente, livre e transformador.

Este ato se insere na ofensiva de setores conservadores contra o MST. É uma ação que conta com o apoio de grande parte do Ministério Público, dos juízes e do sempre pronto a abraçar causas conservadoras, ministro Gilmar Mendes.

Faço minhas as palavras de Jacques Alfonsín. Ele é mestre em Direito, pela Unisinos, onde também foi professor. É Procurador aposentado do Estado, e atualmente é membro da ONG Acesso, Cidadania e Direitos Humanos. Em recente entrevista diagnosticou o que está por trás desta ação: “O fato de se cancelar o funcionamento de tais escolas atesta, mais uma vez, em que medida o preconceito ideológico da suspeita infundada pesa sobre os trabalhadores e as trabalhadoras pobres do nosso país, não pelo que elas fazem ou dizem, mas sim pelo que são”.

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