O Fórum como ele é
Por Gilberto Maringoni
O Fórum Social Mundial são dois. Um deles - o principal - é o processo cotidiano de enfrentamento teórico e prático empreendido pelas correntes de opinião contrárias ao modelo neoliberal. Se tivermos uma métrica elástica, podemos dizer que o plebiscito do último fim de semana na Bolívia integra-se ao mesmo curso das orientações pelas quais se bate a maioria dos ativistas de Belém.
Tanto é verdade, que Evo Morales, Rafael Correa, Hugo Chávez, Fernando Lugo e Lula devem ser as principais atrações deste encontro no norte do Brasil. De certa maneira, todos compartilham algumas das bandeiras discutidas à exaustão há oito anos.
Há Fórum onde há luta. O espírito geral dos seus participantes parece ser o mesmo externado por Tom Joad, personagem central de “As vinhas da ira”, de John Steinbeck, publicado há exatas sete décadas. Protagonista de uma epopéia social, que levou centenas de milhares de camponeses pobres a migrarem do sul dos Estados Unidos para a Califórnia, por conta da Grande Depressão e de uma seca inédita, Joad torna-se, ao término da narrativa, um ativista foragido. Era acusado de assassinato e de fazer agitação social. Sua fala, ao se despedir para sempre da mãe, é um dos momentos luminosos da literatura do século XX:
“Eu estarei nos cantos escuros. Estarei em todo lugar. Onde quer que olhe. Onde houver uma luta para que os famintos possam comer, eu estarei lá. Onde houver um policial surrando um sujeito, eu estarei lá. Estarei onde os homens gritam quando estão enlouquecidos. Estarei onde as crianças riem quando estão com fome e sabem que o jantar está pronto. E, quando as pessoas estiverem comendo o que plantaram e vivendo nas casas que construíram, eu também estarei lá.”
Pode-se adaptar a fala. Onde existir injustiça, lá estarão as consignas do Fórum, onde houver intolerância, é lá que ele se multiplica. “Here, there and everywhere”, como na canção dos Beatles.
Festa e celebração
Por Gilberto Maringoni
O Fórum Social Mundial são dois. Um deles - o principal - é o processo cotidiano de enfrentamento teórico e prático empreendido pelas correntes de opinião contrárias ao modelo neoliberal. Se tivermos uma métrica elástica, podemos dizer que o plebiscito do último fim de semana na Bolívia integra-se ao mesmo curso das orientações pelas quais se bate a maioria dos ativistas de Belém.
Tanto é verdade, que Evo Morales, Rafael Correa, Hugo Chávez, Fernando Lugo e Lula devem ser as principais atrações deste encontro no norte do Brasil. De certa maneira, todos compartilham algumas das bandeiras discutidas à exaustão há oito anos.
Há Fórum onde há luta. O espírito geral dos seus participantes parece ser o mesmo externado por Tom Joad, personagem central de “As vinhas da ira”, de John Steinbeck, publicado há exatas sete décadas. Protagonista de uma epopéia social, que levou centenas de milhares de camponeses pobres a migrarem do sul dos Estados Unidos para a Califórnia, por conta da Grande Depressão e de uma seca inédita, Joad torna-se, ao término da narrativa, um ativista foragido. Era acusado de assassinato e de fazer agitação social. Sua fala, ao se despedir para sempre da mãe, é um dos momentos luminosos da literatura do século XX:
“Eu estarei nos cantos escuros. Estarei em todo lugar. Onde quer que olhe. Onde houver uma luta para que os famintos possam comer, eu estarei lá. Onde houver um policial surrando um sujeito, eu estarei lá. Estarei onde os homens gritam quando estão enlouquecidos. Estarei onde as crianças riem quando estão com fome e sabem que o jantar está pronto. E, quando as pessoas estiverem comendo o que plantaram e vivendo nas casas que construíram, eu também estarei lá.”
Pode-se adaptar a fala. Onde existir injustiça, lá estarão as consignas do Fórum, onde houver intolerância, é lá que ele se multiplica. “Here, there and everywhere”, como na canção dos Beatles.
Festa e celebração
Mas o Fórum também é evento, é festa, é celebração, é reunião, é planejamento e é coisa concreta. É bagunça e organização. O Fórum são 60 mil marchando sob a chuva, nas ruas de Belém, cidade em que “Quando não chove todo dia, chove o dia todo”, segundo seus moradores bem humorados. O Fórum é um evento alicerçado no esforço prévio de muitos, que emprega gente, lota hotéis, bares e restaurantes, ativa a economia local e serve de divulgação internacional para as cidades que o sediam. É grife, com logotipos estampados em bolsas, camisetas e sandálias. É vitrine para quem quer se mostrar e se fazer ouvir.
O Fórum concreto acontece em meio a um ostensivo policiamento da Guarda Nacional para evitar situações de violência nas quais as grandes cidades latinoamericanas são pródigas. Sua abertura ocorre com a presença pouco sutil da tropa de choque da Polícia Militar em frente à sede de um dos maiores jornais do Pará. O Fórum é a deixa para delegados da Polícia Civil entrarem em greve, reivindicando melhores salários, esperando repercutir suas demandas para além das divisas do Estado. É também palco para que professores cobrem a convocação do aprovados em um concurso. É a deixa para que participantes e não participantes falem bem e mal do governo que o patrocina. É também o jeito para que camelôs e ambulantes ganhem em uma semana o que não tiram em um mês.
Em suma, para conseguir realizar suas reuniões, palestras, assembléias, oficinas e encontros nas quais se busca outro mundo possível, o Fórum tem de se materializar no mundo como ele é. O Fórum existe no mundo das mercadorias e das palavras de ordem.
A aparente disjuntiva entre evento e processo só se resolve de uma maneira: quando o Fórum adentra na seara da política, quando se fundem pensamento, ação e disputa pelo poder.
É bem possível que passasse coisa assim pela cabeça de Tom Joad…
Alentadora essa abordagem do FSM. Traz um pouco de esperança.
ResponderExcluirGeorgina