Há poucos dias atrás o Portal IG publicou uma série de reportagens realizadas por Priscila Borges, repórter que vem se especializando em acompanhar os assuntos educacionais.
Para repercutir a divulgação dos resultados do IDEB 2009, a repórter percorreu mais de 1000 quilômetros de estrada, conhecendo um pouco a realidade de municípios baianos que aparecem com as piores notas no indicador do MEC.
Eu recomendo a leitura, principalmente pelo relato embutido em cada uma das cidades visitadas. É um retrato bem feito do abandono e das dificuldades da escola pública em nosso país.
Queria comentar pelo menos dois aspectos que me chamaram a atenção nesta série de reportagens.
Ao abrir a série de reportagens, Priscila utilizou como símbolo o que conseguiu colher de informações sobre a vida do estudante Wellington Borges da Silva, morador de Apuarema, cidade com o menor IDEB.
A vida de Wellington é igual à de milhões de brasileiros: mora numa casa apertada, não possui espaço apropriado para estudar, têm poucos materiais didáticos, sua família possui baixa escolaridade. Ele “faz as tarefas da escola em pé, na mesa da cozinha, onde não há cadeiras. A família não possui livros de literatura, nem lápis de cor ou giz de cera. Ele carrega o lápis, a caneta e a borracha no bolso. Não tem mochila ou estojo”.
Interessante a conclusão de Priscila: “A realidade de Wellington, que mora em Apuarema, no interior da Bahia, se assemelha à de centenas de crianças da cidade (e do País). Não aparece nos números que medem a qualidade da educação nacional e suas complicações não foram suficientes para fazê-lo desistir de estudar. Pelo menos, por enquanto”.
Mais adiante, ao descrever o que encontrou na cidade de Apuarema, é dito que a “falta de espaço físico faz com que a maioria das escolas não tenha biblioteca, quadras de esporte e laboratórios. Os professores, cujos salários são baixos, não têm programas de formação continuada estruturados. Eles próprios carregam deficiências de formação de quando eram pequenos estudantes”.
O que podemos refletir sobre essa realidade?
1º. O IDEB não consegue captar a oferta de insumos que cada escola ou rede escolar oferece aos seus alunos, fator que influencia nas notas que serão obtidas. Sendo assim, os resultados alcançados devem ser olhados com reserva, pois nem tudo foi devidamente verificado e medido;
2º. Vários fatores que influenciam nas notas são externos a escola e também não são medidos por este indicador (e por outros). O relato da vida de Wellington apenas desnuda uma realidade de carência não captada pelos indicadores;
3º. O indicador também não consegue avaliar as condições de trabalho e de formação dos docentes que preparam nossas novas gerações. Isso foi captado pela reportagem, mas não pelo indicador.
A linda reportagem, mesmo que não chegue a estas conclusões, serviu pra despertar inquietações sobre a limitação do instrumento, mesmo que é melhor tê-lo imperfeito (como atesta a sua utilização por inúmeras escolas e redes visitadas) do que não ter nenhum parâmetro.
Caro Prof. Luiz Araújo,
ResponderExcluirSou Professor e sindicalista (Sindicato Servidores da Educação em Camocim/CE) e gostaria de lhe fazer uma consulta sobre o tema "FUNDEB". O senhor poderia me fornecer seu e-mail? Grato, Antonio Junior (apeoc.camocim@hotmail.com)
Prezado professor Luiz Araújo, meu nome é Fernanda e trabalho como coordenadora editorial da Presente revista de educação, uma publicação do Centro de Estudos e Assessoria Pedagógica (www.ceap.org.br). Gostaríamos de convidá-lo para publicar um artigo em nossa próxima edição. Peço, por gentileza, que envie seu email (revista@ceap.org.br) para que possamos conversar sobre o convite. Obrigada pela atenção.
ResponderExcluirFernanda Alamino