Na semana passada, durante dois dias, pesquisadores e gestores educacionais tiveram a oportunidade de conhecer os resultados preliminares da pesquisa “EDUCAÇÃO INFANTIL NO BRASIL: AVALIAÇÃO QUALITATIVA E QUANTITATIVA”.
Esta pesquisa foi desenvolvida pela Fundação Carlos Chagas, por meio de uma parceria entre o Ministério da Educação e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). A pesquisa foi feita em 2009 e 2010 e teve por objetivo fornecer informações sobre a qualidade do atendimento da educação infantil e seu impacto no aproveitamento dos alunos no início do ensino fundamental.
A pesquisa foi feita em seis capitais (Belém, Campo Grande, Florianópolis, Fortaleza, Rio de Janeiro e Teresina). A professora Maria Malta Campos foi a coordenadora do grupo de pesquisa.
Utilizando uma escala de zero a dez, a equipe analisou inúmeros indicadores que podem evidenciar a existência de qualidade numa escola de educação infantil. Dentre eles destaco a existência de livros, de atividades apropriadas, dos insumos mínimos, etc.
O resultado, mesmo que o universo tenha sido unidades de educação localizadas nas capitais, foi desastroso. A média alcançada para o atendimento em creche foi de 3,3. A cidade de Belém, por exemplo alcançou apenas 2,7 e Florianópolis recebeu a maior nota (4,4), mesmo que abaixo da metade da pontuação possível.
Agrupando as escolas foram encontradas 49,5% em situação inadequada, 37,4% em nível de atendimento considerado básico, 12,1% no nível adequado e apenas 1,1% no nível considerado bom.
A situação detectada na pré-escola repete praticamente o quadro das creches, onde a nota ficou em 3,4 e 30,4% das escolas foram classificadas como oferecendo um atendimento inadequado.
Em que pese ter sido muito discutido durante o Seminário se a escala utilizada estava adequada, o resultado confirma a precariedade do atendimento a educação infantil em nosso país. Considerando que é justamente nas capitais que este atendimento possui um volume maior de recursos e as relações de trabalho são mais respeitadas, todos os participantes do Seminário ficaram preocupados com a situação da educação infantil nos demais municípios.
Os dados mostram também que as diferenças regionais e de potencial de arrecadação se refletem no resultado.
A organização do evento ficou de disponibilizar na página da Fundação Carlos Chagas as exposições feitas durante o Seminário.
Tentarei continuar comentando outros aspectos da questão na semana que vem.
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ResponderExcluirÉ lamentável a constatação da pesquisa, entretanto ela se transformará numa ferramenta importante de luta da sociedade civil por melhorias das condições das creches que já existem, e na ampliação da oferta com qualidade para a demanda da educação infantil. Não basta, ampliar e manter a condição precária que vivenciamos hoje. Nesta modalidade estão presentes os "cuidadores", "pagens", "atendentes", "educadores", muitos deles com formação mínima exigida pela LDB, mas em condições muito diferentes dos professores que atuam no ensino fundamental e médio, nas mesmas redes. Quando as redes optam por professores para o ensino fundamental e usam outras terminologias para os trabalhadores qua atuam na educação infantil, geralmente nos planos de carreira são estabelecidas jornadas e condições de trabalho diferenciadas, sem falar na ausência de hora-atividade, e claro de vencimentos menores para aqueles que estão na educação infantil.
ResponderExcluirJoão Monlevade falando. É importante multiplicarmos as pesquisas sobre educação infantil, inclusive para responsabilizarmos os gestores sobre sua não-oferta ou atendimento irregular.
ResponderExcluirVou comentar dois fatos de minha experiência. O primeiro, muito negativo, daqui do Distrito Federal. Por uma série de razões (das quais duas importantes são o alto poder aquisitivo de grande parte da população de Brasília e a prática do "subsídio-creche", pelo qual servidores públicos recebem de R$ 200,00 a R$ 700,00 mensais por filho até seis anos de idade), o número de matrículas em creches públicas no DF é ridículo: não chega a mil, de uma população de 170 mil crianças de zero a tr~es anos. Há algumas dezenas de creches comunitárias gratuitas, para as quais o governo do DF destina um per capita de aproximadamente R$ 200,00 por mês, por meio de convênios. Ou seja, aqui as famílias que podem pagam creches privadas e as que não podem "se viram" nas formas mais primitivas e inadequadas para deixar seus filhos com algum adulto enquanto vão trabalhar. Entra governo e sai governo, inclusive do PT, e a situação não muda. Já em Guarulhos, fui testemunho de uma ação radical do governo petista, de 2001 a 2008. O Elói Pietà e a Eneide (da Apeoesp e CNTE), enquanto prefeito e vice, pegaram o município com 800 mil habitantes e um atendimento mínimo em creches, gastando somente 15% dos impostos em educação. Além de construir e fazer funcionar dezenas de novas creches, na impossibilidade material`e política de atender à demanda da cidade que chegou a 1.200.000 habitantes em 2007, bolaram o EDUCRIANÇA, política pública que envolvia ao mesmo tempo educadores, mães e filhos em ações de educação e cuidado. Assisti ao testemunho de várias mães que se "descobriram" educadoras não somente dos filhos dos outros como dos próprios filhos. Vocês acreditam que apareceu gente achando que essa forma criativa e revolucionária de educação infantil era ilegal? Houvesse Educrianças nas grandes cidades - inclusive no DF - e nossa situação seria outra. Um voto de louvor à WEneide e à Lindabel, que a substituiu à frente da Secretaria de Educação nos anos finais. Pena que a pesquisa da Carlos Chagas não incluiu Guarulhos.