segunda-feira, 29 de março de 2010

Diário da CONAE (1)

A Conferência Nacional de Educação teve inicio na noite de ontem. Independente de qualquer juízo sobre o mérito ou não do processo de construção, o evento por si só faz história. Foram poucas as vezes que se conseguiu reunir público tão diverso e, ao mesmo tempo, tão representativo do que existe de educação em nosso país.

Fico muito feliz de fazer parte deste acontecimento. Depois de 26 anos de magistério, de ter dirigido sindicato, participado na direção da Confederação dos Trabalhadores em Educação, ter sido secretário municipal de educação (em Belém) e dirigente da UNDIME, ser delegado ao evento indicado pela Campanha Nacional pelo Direito à educação é uma honra e uma grande oportunidade.

Vou tentar manter neste espaço virtual uma espécie de diário do evento. Inicio comentando a solenidade de abertura.

Dois fatos marcaram a abertura da Conae. O primeiro foi a ocupação realizada por estudantes, professores e funcionários da Universidade de Brasília (UnB), que estão em greve e realizaram um protesto e uma pressão pelo atendimento de suas reivindicações. O segundo fato foi a ausência de falas não governamentais na abertura do evento.

Uma manifestação no inicio do evento garante aos delegados a lembrança de que o debate da Conferência deve necessariamente ser uma síntese que leve em conta as reivindicações dos trabalhadores e estudantes.

O outro fato é preocupante. A sociedade civil, seja aquela que se organiza em entidades não-governamentais, sindicatos ou associações estudantis e científicas, estava representada no palco, mas o seu papel era ser o pano de fundo para as autoridades, devidamente colocadas nos dois lados de trás da mesa principal. No primeiro plano ficaram parlamentares e ministros.

O esforço dos trabalhadores, estudantes, pesquisadores, gestores estaduais e municipais foi reconhecido nas falas das autoridades, mas a voz da sociedade não foi ouvida. De certa forma isso representa um desvio autoritário recorrente: se me considero um governo legítimo e, além disso, comprometido com os interesses populares, sou suficiente para expressar seus interesses. Infelizmente isso não é verdadeiro e é totalmente equivocado.

Espero que a voz dos segmentos sociais que compõe a educação seja ouvida no restante da Conferência.

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